quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Um pouco sobre a minha arquitetura

Formado na FAU/USP em 1973, Perrone teve sua vida estudantil no auge do debate sobre idéias e princípios de uma arquitetura que se pretendia a construção de um país e no pior período da repressão instaurada pelo regime militar: “Formei-me arquiteto entre o desenho e o AI-5”, ele comenta.
Embora mal tenha convivido na faculdade com Artigas, que foi cassado em 1969, Perrone estreitou as relações com o mestre - que já vinha mantendo há algum tempo - através do prédio da FAU, que passou a freqüentar a partir do segundo ano. Colega de escola dos filhos de Artigas, Perrone teve oportunidade de visitar muitas de suas obras com o próprio lhe introduzindo no universo da arquitetura, não só com viés, mas à la manière totalmente paulista.Os primeiros projetos de Perrone já são reveladores dessa intimidade entre arquitetura e construção, relação essa que foi se aperfeiçoando ao longo de sua trajetória. No início, seus trabalhos apresentavam perfeita sintonia com a linguagem vigente.

Embora nunca tenha primado pelos arrojos estruturais, optando quase sempre por soluções discretas, a sua exploração na composição formal era evidente, impedindo deduzir-se qual a ascendência de uma sobre a outra. Buscava a utilização do mínimo de variáveis, independentemente da complexidade da proposta, e o uso intenso do concreto aparente, condicionando a arquitetura a suas restrições e limitações.Conforme foi abandonando a rigidez desse repertório, Perrone experimentou outros materiais. Estes sugeriram novas formas, que culminaram na composição volumétrica, em que a cor e a textura passaram a assumir papel preponderante.Perrone é um dos poucos arquitetos paulistas de sua geração que conseguiram ir além do discurso e desenvolver um trabalho persistente com elementos pré-fabricados.

Contratado pela prefeitura de Santo André, projetou escola, unidades de saúde e conjunto habitacional Prestes Maia utilizando o mesmo sistema construtivo, baseado em elementos pré-fabricados elaborados pelo IPT/USP. Sem ter tido a oportunidade de interferir no desenho desses elementos, Perrone os combinou e aproveitou em situações muito diversas, reelaborando e criando possibilidades de uso, para as quais não haviam originalmente sido pensados.O domínio das técnicas construtivas adquirido nessas experiências lhe garantiu tal flexibilidade, que a presença da própria técnica na composição final passou a ser uma questão de menor relevância, podendo ser ou não evidenciada, como exemplificado nos dois projetos publicados nesta edição.

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